Assim que uma crise se aproxima, há produtos que desaparecem rapidamente das prateleiras dos supermercados em Portugal. Com o apagão inédito que deixou a Península Ibérica às escuras esta segunda-feira, 28 de abril, o cenário repetiu-se e foram vários os produtos que serviram para encher os carrinhos de compras.
Preocupados com a duração da falta de energia — que, a meio da tarde, ameaçava prolongar-se até ao dia seguinte —, os portugueses correram às lojas mais próximas para se abastecerem. Água, leite, ovos, carvão e velas foram os artigos mais procurados para enfrentar o apagão, confirma à NiT a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).
Durante o tempo sem eletricidade, vários produtos desapareceram das prateleiras. Nas redes sociais multiplicaram-se relatos de supermercados que encerraram por segurança, enquanto outros, que se mantiveram abertos, foram esvaziados em poucas horas.
Quem passou pelas superfícies encontrou um cenário caótico: carrinhos de compras carregados até cima, filas a ocupar os corredores e até clientes que transportavam alimentos em malas de viagem. Esta terça-feira, 29 de abril, já está tudo normalizado e os produtos repostos.
“Registou-se um pico de afluência às lojas, com um aumento significativo da procura por algumas categorias de produtos — água engarrafada, enlatados, pão industrial, carvão, pilhas e lanternas”, adiantou a comunicação do Continente à NiT. “No entanto, a operação funcionou sem incidentes a registar. Nas entregas ao domicílio, concretizaram-se 80 por cento dos serviços, estando os restantes reagendados para as próximas 48 horas”, acrescentaram.
No Lidl, o cenário foi semelhante. As águas, embalagens de salsichas e atum, legumes, velas e carvão foram os primeiros a desaparecer. Contudo, “a cadeia de abastecimento foi normalizada e todas as lojas estão a ser reabastecidas de acordo com as necessidades identificadas”. “A nossa capacidade logística e a capacidade de adaptação das nossas equipas foram cruciais para manter a nossa atividade operacional e disponível para garantir o abastecimento aos nossos clientes”, afirmou fonte da retalhista.
Durante a tarde de segunda-feira, muitos supermercados encerraram, como foi o caso do Pingo Doce da Azinhaga das Galhardas. Funcionários relataram à NiT que a loja fechou por segurança dos trabalhadores e dos clientes, poucas horas após o corte de eletricidade.
Das 4200 lojas associadas da APED, apenas 20 por cento encerraram. “Conseguimos manter 80 por cento das lojas de retalho alimentar abertas, fruto da logística e infraestruturas como os geradores. Mesmo com picos de procura, conseguimos suprimir as necessidades básicas dos consumidores”, explicou à NiT Gonçalo Lobo Xavier, presidente da associação. “As lojas que não abriram foram as mais pequenas, que concentraram os geradores nas linhas de frio e optaram por não abrir por segurança alimentar e para garantir o mínimo de desperdício possível”, acrescentou.
Da cadeia da Sonae, algumas lojas encerraram, mas “a larga maioria” manteve-se aberta e operacional, graças “à otimização da gestão de recursos e de sistemas de redundância, com interrupções pontuais para reabastecimento dos geradores”, como referiram. A maioria das lojas conseguiu manter os sistemas de pagamento offline a funcionar, permitindo responder às necessidades mesmo dos clientes que não tinham dinheiro vivo.
A cadeia alemã Aldi admitiu que está a “concentrar todos os esforços para restabelecer rapidamente o abastecimento nas unidades mais afetadas”. Já a Mercadona publicou nas redes sociais um agradecimento às equipas e clientes pela colaboração durante o apagão.
As lojas abriram sem percalços esta terça-feira. No entanto, pelas partilhas feitas nas redes sociais, muitas unidades da marca espanhola apresentaram prateleiras vazias, tendo os produtos frescos sido retirados para arcas alimentadas por geradores, para não comprometer a qualidade.
Lobo Xavier destaca ainda o civismo dos portugueses nas lojas. “Não há registos de incidentes ou desacatos”, revelou. Com o regresso da eletricidade à noite, as operações retomaram de forma a garantir que, logo na manhã de terça-feira, as lojas abrissem normalmente e os produtos fossem repostos.