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O artista de rua que pôs Michael Jordan a dançar a “Macarena”

O são-tomense cumpriu o sonho de conhecer a lenda do basquetebol. Mas Lucas não é propriamente um desconhecido.

Quando ainda vivia em São Tomé e Príncipe, Lucas Pina passava os dias a jogar basquetebol com os amigos. O seu ídolo era Michael Jordan — e colecionava sapatilhas e camisolas das várias coleções do atleta. Um dos maiores sonhos da sua vida era conhecê-lo. O sonho tornou-se realidade este domingo, de forma completamente inesperada.

O artista de rua de 24 anos estava a montar o material para um concerto no Largo do Chiado, mesmo em frente à Brasileira. Foi então que olhou para a esplanada e viu Jordan. “Quando tirou os óculos, percebi que era mesmo ele”, contou à NiT.

Ficou nervoso. As pernas tremiam, mas a ansiedade deu lugar ao entusiasmo assim que começou a tocar os primeiros acordes na guitarra. No concerto cantou originais e, no final, animou o público com a “Macarena”. Em poucos minutos, o Chiado transformou-se numa espécie de flash mob — e Jordan não resistiu. “Ele dançou muito connosco”, recorda Lucas.

No final, foi ter com o ídolo e falou com ele durante cerca de cinco minutos. “Contei-lhe toda a minha história e ele perguntou-me como era ser artista de rua e disse-me que cantava muito bem.” Segundo Lucas, o ex-jogador prometeu tentar voltar ao Largo durante a tarde desta segunda-feira, 2 de junho, por volta das 15 horas. “Ele disse que está de férias e que provavelmente ia passar lá para lanchar, mas não é garantido.”

Apesar de especial, este não foi o primeiro encontro com figuras conhecidas. “Já vi muita gente famosa lá, como os Mastiksoul e atores da Globo e da Record. Eles costumam passar n’A Brasileira para almoçar.”

Com mais de 22 mil seguidores no Instagram, Lucas Pina já é conhecido entre os portugueses. Em 2021 participou no “Got Talent”, na RTP, como parte da dupla Rapazes do Milongo — e chegaram mesmo à final.

 
 
 
 
 
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Nessa altura tinha acabado de se mudar para Portugal, com a intenção de tirar a licenciatura em música. Como não conseguia pagar os estudos, começou a trabalhar na construção civil. No ano seguinte, decidiu começar a atuar na rua.

“Percebi que ganhava quatro vezes mais do que como servente. Ia às obras e trabalhava oito horas por 30€. Nas ruas de Lisboa posso fazer mais de 100€ em apenas duas horas.” Nos melhores dias, chegou a arrecadar mais de 900€. “Decidi que era aqui que devia estar e assim também tenho mais tempo para gravar e aprender mais sobre música.”

Os concertos no Chiado também servem para mostrar as suas músicas originais a portugueses e turistas. Atualmente vive apenas da música, o que sempre foi o seu sonho. Começou a aprender a tocar com vídeos no YouTube e a apresentar-se em peças da escola.

“A música é o caminho que construí para alcançar os meus sonhos e ajudar a minha família. Cada dia estou mais perto de mostrar as minhas canções ao grande público”, reflete.

O objetivo começa a materializar-se. A 8 de março do ano passado lançou “Mamã”, o primeiro tema original. A 6 de junho vai apresentar a nova faixa, “Jogo”, sobre uma “relação onde não há reciprocidade”.

Enquanto os grandes palcos não chegam, Lucas continua a atuar no Chiado quase todos os dias. “Foi o primeiro lugar em que toquei e senti uma boa conexão àquele lugar, também por causa do Fernando Pessoa. As pessoas tratam-me muito bem e sinto-me à vontade”, descreve.

Durante os espetáculos canta em francês, inglês, português e espanhol — idiomas que aprendeu ali mesmo, entre colegas e conversas com o público. “Quando vejo que o pessoal é de Portugal canto Rui Veloso e Pedro Abrunhosa. Quando são ingleses, vou muito para o Ben E. King.” No repertório não faltam temas como “Despacito” e “Macarena”. “A energia é sempre muito boa.”

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