Adérito Lopes, o ator agredido por um grupo de extrema-direita na noite desta terça-feira, 10 de junho, já está em casa, depois de receber alta hospitalar. A informação foi revelada à SIC Notícias por fonte próxima do artista, que teve de levar pontos no rosto.
O português de 45 anos foi levado ao Hospital de Santa Maria pelos bombeiros, na sequência das agressões, e terá saído das urgências por volta das duas horas da madrugada. Adérito terá ainda regressado ao Cinearte, no Largo de Santos, onde sofreu a agressão, antes de ir para casa — mas o motivo dessa visita não foi explicado.
Os cortes no rosto terão sido provocados por uma soqueira ou anéis utilizados pelo suspeito, de 20 anos, que já foi identificado pela Polícia de Segurança Pública. A agressão aconteceu pelas 20 horas, quando os atores da companhia de teatro A Barraca começaram a chegar ao Cinearte, em Lisboa. Uma hora depois, iriam encenar a última sessão do espetáculo “Amor é Um Fogo Que Arde Sem Se Ver” que integrava as Festas de Lisboa.
À porta, os artistas cruzarem-se “com um grupo de neonazis com cartazes” em que se liam várias frases xenófobas, incluindo “Portugal aos portugueses” e “defende o teu sangue”.
“Eram cerca de 30, começaram por provocar uma atriz, que vinha com uma camisola com uma estrela e headphones. Portanto, nem ouviu o que diziam”, contou Maria do Céu Guerra à SIC Notícias. “Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara.
Ao jornal “Observador”, um ator da companhia que prefere não ser identificado revelou que o grupo de neonazis “estava a participar num evento num dos restaurantes perto do teatro” quando um dos elementos se dirigiu a uma das atrizes que fazem parte do elenco da peça.
Peça foi criada em homenagem a Camões
“Amor é Um Fogo Que Arde Sem Se Ver” foi criada por Maria do Céu Guerra e Hélder Mateus da Costa, para as celebrações do quinto centenário do nascimento de Luís de Camões. A produção foi encenada pela primeira vez no Centro Cultural de Belém, com sessões nos dias 29 de novembro a 1 de dezembro de 2024.
A peça conta a história da viagem de Camões, entre amores, naufrágios e a criação de “Os Lusíadas”.
“O espetáculo transporta memórias de amores e desamores, muitas perdas e maus tratos e prisões operados em sigilosos conluios por muitos inimigos seus contemporâneos”, lê-se na sinopse.
Este mês de junho, “Amor é Um Fogo Que Arde Sem Se Ver” voltou a estar em exibição, como parte das Festas de Lisboa. A peça contaria com quatro sessões gratuitas (de 7 a 10 de junho), mas a última acabou por ser cancelada na sequência deste incidente.
Com a direção musical do Maestro António Vitorino d’Almeida e vídeos do aclamado ilustrador André Letria, o elenco contava com nomes como Beatriz Dinis e Silva, Érica Galiza, Gil Filipe e Luís Ilunga.