Televisão

Hugh Laurie odiava tanto o Dr. House que até teve de fazer terapia

O ator que agora brilha na novíssima “Roadkill” chegou a confessar que sonhava ter um acidente para poder faltar às gravações.
Ele é o protagonista da nova minissérie da HBO

Hugh Laurie trocou a sombria Londres pela reluzente Los Angeles e, em 2004, vestiu a bata que o haveria de tornar famoso em todo o mundo. Tornou-se num ator premiado, um dos mais bem pagos da indústria e chegou ao patamar que só muitos invejam: o de poder escolher a dedo o que quer fazer depois. O que é que poderia correr mal neste cenário? Aparentemente, muita coisa.

Não é que Laurie tenha desaparecido da vista. Passou pelos cenários da premiada “Veep”, brilhou como vilão na adaptação de John Le Carré, “The Night Manager”, e estreia agora uma minissérie política chamada “Roadkill”, que chegou à HBO a 19 de outubro.

Nenhuma das produções o elevou ao estatuto que “Dr. House”. Apesar do sucesso, o ator de 61 anos odiou fazer as oito temporadas da série. Mesmo com um salário milionário, dois Globos de Ouro na estante e um papel que abriu o caminho aos protagonistas antipáticos e recheados de defeitos.

O papel de Gregory House foi, para Laurie, uma espécie de “gaiola dourada”, revelou algum tempo depois do final da série em 2013. 

Viveu sozinho em Los Angeles durante os nove anos de produção dos 177 episódios. Em casa, no Reino Unido, ficou a mulher e os filhos. Longe da família, revela que se sentiu preso na rotina. “A repetição de qualquer rotina, dia após mês, após ano, pode tornar-se num pesadelo”, explicou.

Não era apenas a rotina. Laurie sentia-se preso. Com medo de ser honesto durante as gravações, sob o risco de ver as suas tiradas tornadas públicas nas redes sociais, mantinha-se reservado, sozinho com os seus cigarros. O único com quem se abria era o seu terapeuta.

A fama quase instantânea da personagem isolou-o ainda mais. Mesmo na gigante Los Angeles, Laurie era reconhecido em qualquer local. Foi forçado a escurecer os vidros do carro e a deixar de fazer as suas próprias compras. Cada vez mais, a vida era um inferno.

“Passei por tempos muito sombrios, parecia que não havia escapatória (…) Houve alturas em que pensava ‘Se pelo menos tivesse um acidente a caminho do estúdio que me dessem um par de dias de folga para recuperar, isso seria estupendo’”, confessou. A rígida ética de trabalho nunca o permitiu aventurar-se por esses caminhos. “Nunca me apanhariam a ligar e a dizer que estava adoentado [para faltar ao trabalho].”

Estima-se que tenha recebido mais de 200 mil euros por episódio

Laurie também nunca escondeu a outra dificuldade que enfrenta diariamente. Diagnosticado com diversas depressões desde a adolescência, é algo que já reconheceu publicamente que o acompanha. Uma espécie de “tristeza pesada”, naturalmente potenciada pelo isolamento.

De volta ao Reino Unido, a casa e à família, os tempos negros de “Dr. House” estão definitivamente no passado. Um ano depois da estreia da temporada final, revelou que muitos dos problemas estavam apenas na sua cabeça.

“A esta distância parece absurdo. Afinal, não fazia mais do que brincar e contar histórias com um grupo de pessoas porreiras. O que é que havia de asfixiante nisso?”, concluiu.

Apesar das declarações, desde então, Laurie não embarcou em compromissos tão exigentes. Ele bem tinha avisado, quando lhe perguntaram em 2013 se ponderava repetir a façanha de agarrar um papel de protagonista. “Se a oportunidade se apresentar, não sei se quereria ou sequer se fisicamente seria capaz. Imagino que aconteça o mesmo com desportivas. Talvez chegue o dia em que o John Terry [antigo jogador do Chelsea] diga ‘Já não quero jogar 90 minutos. Posso dar-vos 60. Ou talvez entre só na segunda parte’. As pernas começam a ir-se e de repente percebes que a dor está muito mais presente”.

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