A história do Gandum, o novo hotel rural que abriu no mês de março em Montemor-o-Novo, começou a ser escrita a muitos quilómetros de distância do Alentejo, mais precisamente na Suíça. Foi lá que Martina Wiedemar e o português João Almeida se conheceram.
Os dois cruzaram-se pela primeira vez em Berna e, desde então, nunca mais se separaram. Ela, agora com 41 anos, formou-se em Geografia e é especialista em Alterações Climáticas. Ele, com 38, estudou Economia e Desenvolvimento Sustentável. O interesse pela área da sustentabilidade sempre foi um ponto em comum no casal, mas recentemente abraçaram um projeto diferente de tudo o que já fizeram: a construção de uma “aldeia” com um hotel rural.
Depois de viverem vários anos na capital da Suíça, mudaram-se para Lisboa em 2015, mas foi em Montemor-o-Novo que descobriram o sítio perfeito para verem os três filhos crescer — e não só. Foi na cidade do distrito de Évora que aplicaram tudo aquilo que tinham aprendido e em que acreditavam: que uma “vida mais sustentável é possível, mais fácil do que parece, e acessível a todos”.
“Em 2018, tivemos a oportunidade de comprar uma quinta e a nossa ideia era colocar em prática tudo o que aprendemos na universidade. Sempre trabalhámos mais de forma teórica e este seria um projeto com uma grande ligação à sustentabilidade”, conta à NiT Martina Wiedemar.
O hotel rural começou a ser pensado em 2019, ano em que encontraram este terreno com vários edifícios em mau estado de conservação. “A quinta estava abandonada há uma década, tinha até uma casa em ruínas que não vimos porque estava coberta em silvas”.
Pensado para ser bonito, desenhado para ser confortável, construído para ser ecológico. Assim nasceu o Gandum Village, uma “pequena aldeia com um propósito”. Com sobreiros e oliveiras à volta, o hotel rural está situado numa quinta de 14 hectares na zona protegida de Monfurado, por onde corre uma ribeira chamada Gandum.
“O nosso objetivo é criar um oásis no Alentejo e mostrar que esta região também é bastante verde. Desde o início que já plantámos 50 mil árvores na quinta e queremos aumentar ainda mais as plantações”, diz.
O Gandum foi construído com materiais neutros em carbono, como a terra, com um design moderno e confortável, mas também funcional e pragmático. A primeira fase ficou concluída no mês de março, com a abertura de três alojamentos, um restaurante e um espaço de coworking.
Os três apartamentos (dois T2 e um estúdio) do edifício do monte que já estão em funcionamento. Foram pensados para famílias grandes e pequenas, bem como grupos de trabalho à procura de inspiração. Situam-se no edifício junto à receção e todos dispõem de varanda e kitchenette, com interiores modernos e minimalistas.
É também nesta área que se encontra o restaurante Provenance, que serve “cozinha mediterrânea com leveza e espontaneidade”, com menus a 15€ durante a semana. Tudo o que oferecem é feito com ingredientes frescos e da época, produzidos nas agroflorestas da quinta ou muito perto. Isto porque existem três agroflorestas no Gandum, todas semeadas e plantadas desde o início do projeto, e que são um dos pilares de sustentabilidade do lugar.
O espaço de coworking, assim como o restaurante, está aberto ao público em geral. “Era o edifício que estava coberto com silvas. Tem dois andares, um deles com mesas de trabalho para coworking e outro com salas de reuniões, que também podem ser utilizadas para festas privadas”, explica.
Todo o conceito é muito ligado à família, pelo que construíram também dois parques infantis, um para miúdos mais pequenos e outro para crianças maiores, com um escorrega e baloiços. O Gandum tem ainda uma zona com duas piscinas com um bar, bem como uma zona de eventos onde é possível organizar casamentos, chamada La Terrasse.
Trata-se apenas de uma abertura parcial, uma vez que o hotel rural de quatro estrelas ainda está em construção. A inauguração oficial está prevista para o final do verão, quando passam a estar disponíveis mais 18 unidades de alojamento
Os estúdios são espaçosos, sendo que oito deles são comunicantes entre si. O hotel rural vai nascer no edifício do Claustro, um ícone de arquitetura natural, com paredes estruturais em taipa, apenas com fundação e laje em betão.
“Este tipo de construção proporciona a quem cá fica uma experiência de hospitalidade autêntica e sustentável, com regulação natural da qualidade do ar, máximo conforto térmico e acústico e mínimo impacto ambiental”, destaca a fundadora.
Todos os quartos têm interiores modernos e minimalistas, mas o destaque é mesmo a vista fantástica para o montado e o castelo de Montemor-o-Novo.
A médio prazo, o plano passa também por criar uma série de workshops e oficinas no hotel rural, de forma a partilhar conhecimento nas áreas da sustentabilidade e trabalhos manuais.
“Em Montemor-o-Novo ainda não existia algo assim, um conceito mais familiar. Queríamos criar um espaço único, um sítio urbano no campo. Uma espécie de LxFactory, mas no Alentejo”.
Para ficar hospedado num dos apartamentos do Gandum, os valores rondam os 120€ por noite. As reservas podem ser feitas online.
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